sexta-feira, 22 de abril de 2016

Resenha com Roberta Basto #Uma interpretação de A metarmorfose

Oi gente! Como vocês estão?
Hoje eu vou falar sobre o livro "A metamorfose".

Apesar de “A metamorfose” ser escrita em 1912, ela continua bem atual, falando das angustias humanas, como a solidão, a exclusão, ou seja, das crises do homem contemporâneo, por isso, Freud e Chklovski podem analisar tão bem, mesmo não se tratando diretamente de seus estudos.
A Metamorfose se passa com um caixeiro viajante, Gregor Samsa, que ao acordar se transforma misteriosamente em um inseto e é repudiado pela família. O livro conta suas desventuras de convivência familiar com o narrador se tornando um inseto asqueroso e como a família tentava lidar com essa situação, conta ainda a saga dessa família para tentar conviver com o inseto, suas angustias sobre ele ser ainda humanos ou ser totalmente animalesco, numa luta até sua morte pra preservar sua humanidade Gregor vê-se mudando aos poucos, como por exemplo, quando ele começa a gostar que tirem os móveis de seu quarto, mas ao mesmo tempo acha um absurdo por está perdendo sua identidade.
Como Freud explica no Inquietante, o unheimlich, o novo, não familiar, “A palavra unheimlich é evidentemente o oposto de heimlich, heimisch, vertraut [doméstico, autóctone, familiar] sendo natural concluir que é algo assustador justamente por não ser conhecido e familiar” Freud (2009: 331) no caso do livro do Kafka é toda a situação de se tornar algo estranho e desprezado pela sociedade, ao se tornar um inseto gigante, ele se torna um párea da sociedade “Não era sonho. Seu quarto, em tudo familiar, apesar de um tanto pequenino, tinha as quatro paredes de sempre” Kafka (2001: 5).
O inquietante está presente notoriamente nessa narrativa, seja por ter uma pitada de Édipo, seja pela condição em que ele se encontra depois de sua transformação. Édipo Rei conta a história do filho de Laios que manda matar seu filho por causa de uma profecia.
  Édipo , rei de Tebas que foi amaldiçoado de forma que seu primeiro filho tornar-se-ia seu assassino e desposaria a própria mãe. Tentando escapar da ira dos deuses, Laios manda matar Édipo logo de seu nascimento. No entanto, a vontade do destino foi mais forte e Édipo sobreviveu, salvo por um pastor que o entregou a Políbio, rei de Corinto.
   Já adulto Édipo descobre sobre a maldição que lhe foi atribuída e para que ela não fosse cumprida, foge de Corinto para Tebas, sem saber que lá sim é que seus pais verdadeiros o esperavam.
   No meio da viagem, encontra um bando de mercadores e seu amo (Laios), sem saber que seu destino estava já se concretizando, mata a todos. Assim que chega a Tebas, Édipo livra a cidade da horrenda esfinge e de seus enigmas, recebendo a recompensa: é eleito rei e premiado com a mão da recém-viúva rainha Jocasta (viúva de Laios).
   Anos se passam e Édipo reina como um verdadeiro soberano e tem vários filhos com Jocasta, mas a cidade passa por momentos difíceis e a população pede ajuda ao rei.
   Após uma consulta ao oráculo de Delfos, que responde pelo deus Apolo, os tebanos são alertados sobre alguém que provoca a ira dos deuses: o assassino de Laios, que ainda vive na cidade. Édipo então decide livrar seu reino desse mal e descobrir quem é o assassino, desferindo uma tremenda maldição.   Ele só não esperava que essa maldição fosse sobre cair sobre ele próprio, assim que no mesmo dia descobrisse a verdade, através do pastor que o encontrara ainda quando bebê, pendurado em um bosque pelos tornozelos.
   Jocasta suicida-se assim que descobre, e Édipo se cega, perfurando os próprios olhos e exilando-se.”*

Isso deu origem ao Complexo de Édipo:
“Segundo Freud, a resolução do Complexo de Édipo é responsável pela inserção da criança na realidade, pela quebra das relações simbióticas, através do reconhecimento das interdições, ou seja, pelo reconhecimento do pai na relação. Esta figura paterna, inicialmente percebida como mero obstáculo à realização dos desejos, é aos poucos introjetada.O complexo de Édipo é estruturante da personalidade, e a dificuldade em ultrapassar esse momento e identificar-se a figura paterna pode ser a explicação de muitos comportamentos de dependência e imaturidade de indivíduos adultos. A inserção da figura paterna depende, entre outros elementos, da postura da mãe com relação ao pai. Não se pode falar em uma idade exata para que o complexo de Édipo se manifeste ou se dissolva. Freud falava em uma fase entre os três e os seis anos de idade. Para outros psicanalistas como Melanie Klein, a introjeção da figura paterna acontece bem antes, logo nos primeiros anos de vida.” **

Freud cita Jentsch que diz que a maneira mais segura de fazer uma história ser inquietante é deixar sempre a dúvida se é realmente o indivíduo ou um autômato. No caso de “ A metamorfose” o inquietante que está em segundo plano é realmente era o Gregor Samsa ou uma alucinação. O livro para o sentimental, por se tratar de um livro em primeira pessoa, o narrados nos envolve com suas angustias e seus anseios. A narrativa de Kafka também tem uma pitada de “sonho”, ou melhor, “pesadelo”, oscilando entre o racional e o irracional, sempre subjetivo.
“ A primeira coisa a fazer é levantar-se  calmamente, vestir-se sem ser importunado e, sobretudo, comer algo, para poder  refletir sobre o resto, pois sabia perfeitamente que ia ficar ali na cama, meditando, não o conduziria a nada. Lembrou-se de já ter sentido outras vezes aquela dorzinha, certamente causada por um mal jeito enquanto dormia; mas, depois de levantar-se, ela não mais se manifestava, provando ser fruto da indagação; estava curioso para ver como as fantasias de hoje iriam desaparecer. Não tinha dúvidas também de que a mudança em sua voz era apenas o anuncio de um forte resfriado , doença inerente a todo caixeiro viajante” Kafka (2009:9)"
Gregor se opõe ao mundo nessa narrativa, enquanto o mesmo tenta se manter racional, consciente, ele é sempre levado de alguma maneira aos instintos, pois não somos totalmente racionais,  temos desejos e isso que nos move. “ Ouvindo essas palavras da mãe, Gregor percebeu que a ausência de comunicação humana nos últimos dois meses – aliado à monotonia em que vivia- causara-lhe uma perturbação no raciocínio, pois de outro modo não conseguiria explicar por que desejava ver o quarto vazio. “ Kafka (2009: 40)
A intenção do Kafka é demonstrar que o nosso cotidiano tem muito do irracional, que muitas coisas são absurdas e que a vida pode ser uma alucinação. A vida para Gregor é sua família, a formação de sua irmã, seus pais sendo sustentados, e isso tem um efeito negativo para a família, como por exemplo, deixar a família acomodada, mais especificamente o seu pai ficar entrevado em cima do sofá mesmo não sendo tão velho para o trabalho. Quando ele vira um inseto tudo vai a baixo, todos seus anseios se transformam em angustia. E tudo aquilo que ele tentava proporcionar para sua família, todo aquele conforto se tornaram amarras para aquela família. E tudo que ele quer em troca é o amor da família. Ele de certa forma toda a posição do pai como provedor da família e inverte a hierarquia familiar, como por exemplo, Gregor se senta à cabeceira da mesa em vez do pai.
“ No inquietante oriundo de complexos infantis não consideramos absolutamente a questão da realidade material, cujo lugar é tomado pela realidade psíquica. Trata-se da efetiva repressão de um conteúdo e do retorno do reprimido, não de uma suspensão da crença na crença da realidade desse conteúdo” Freud (2009:370).
Há uma desumanização de Gregor até o ponto que não desça nem uma lágrima em sua morte, no fim da sua vida era um inseto desprezado, mas qualquer um que estivesse na situação da família também ficaria sem saber como agir, mesmo que como leitor se compadeça com as dores e desilusões do narrador.
Para Gregor, e para o leitor que é influenciado pelo narrador, ele é a vítima, porque para ninguém si próprio é o vilão, o mal, o errado está sempre fora numa oposição eu versos o mundo, numa batalha entre o bem e o mal, que muitas vezes não é real, pois o bem e o mal concorrem dentro de nós. “Além do mais, estava muito desanimado com a sua família, e o máximo que conseguia sentir por ela era irritação.” Kafka (2009:52). Após da morte de Gregor a narrativa se torna solar, fica mais leve, como se um peso enorme fosse tirado das costas da família Samsa.
“De imediato, as mulheres lhe obedeceram, correram em sua direção, acariciaram-no e acabaram de escrever as cartas. Em seguida saíram os três juntos, algo que não fazia havia meses, e pegaram um bonde com destino ao arredores da cidade. Como únicos passageiros aquela hora, contemplaram a luz e sentiam o calor  dos raios de sol que invadiam o bonde completamente. Recostados gostosamente em seus assentos , trocavam ideias  sobre o futuro e percebiam que, bem pesadas as coisas, as perspectivas não era ruins, pois seus três empregos – sobre a quais praticamente não haviam conversado – eram bons e auspicioso. O que certamente colaboraria para a melhora seria a mudança de casa: queriam um apartamento menor, de aluguel mais em conta, melhor situado e, principalmente, mais prático do que o atual, cuja escolha tinha sido de Gregor. E enquanto os três conversavam, o senhor e a senhora Samsa perceberam quase ao mesmo tempo, que a filha – A despeito de sua cor ter se tornado um pouco mais pálida nos últimos tempos – tinha se convertido numa jovem formosamente vistosa. Numa quietudo calma, entendendo-se quase inconscientemente através da trocade olhares, os dois pensaram que já estava na hora de encontrar um bom marido para ela. E quando a filha, ao final da viagem levantou-se e esticou preguiçosamente o corpo jovem, tudo pareceu seu novos sonhos e intenções” Kafka (2009: 70-71)
Já sobre o ponto de vista de A arte como procedimento, a arte é composta por imagens, e “A metamorfose” tem uma vasta quantidade. “ Gregor não chegou a entrar na sala, permaneceu apoiado na outra folha da porta, que ainda estava fechada” Kafka (2009:20).
Há em “A metamorfose” o procedimento de singularização, “Consiste no fato de que ele não chama o objeto por seu nome, mas o descreve como visse pela primeira vez e trata cada incidente como se acontecesse  pela primeira vez” Toledo (1976: 46) que se exemplifica no trecho “Ei, venham ver, ele bateu as botas, está lá esticado! Bateu as Botas” Kafka (2009:66) em que a empregada não se dá ao trabalho de citar o nome de Gregor e o tornando mais animalesco, como se ele nunca tivesse sigo humano. “ Mas a singularização não é somente um procedimento de adivinhações eróticas ou de eufemismo; ela é a base do único sentido de todas adivinhações. Cada adivinhação é uma descrição, uma definição de objetos por palavras que não são habitualmente atribuídas” Toledo (1976: 52)
Portanto, podemos ver que, essa difícil  obra de Franz Kafka, tem estranhamento por toda parte, e tem influencia de édipo rei, visto que a teoria do complexo de édipo, analisada por Freud não é contemporânea ao livro. Tudo nesse livro é unheimlich, tudo causa estranhamento. Já pelo olhar de Toledo, há varias formações de imagens, que é o princípio da arte, quanto a singularização está totalmente presente, visto que ele é animalizado pela família ao ponto de perder sua identidade, não é nem mais chamado pelo nome, quanto mais ser a sombra do homem de que um dia já foi. Gregor também gera no leitor mais atendo um turbilhão de sentimentos, pois ao mesmo tempo em que sente pena, consegue entender como aquela família se sente, se colocando na situação da história. E não de maneira extrema como no livro, mas o nosso cotidiano também tem um viés irracional, como nossas neuroses ou até coisas mais simples de nosso cotidiano.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
KAFKA, Franz. A Metamorfose. São Paulo: Alexandria,2001. FREUD, Sigmund. O inquientante: História de uma neurose infantil, Além do princípio do prazer e outros textos. Tradução Paulo César. São Paulo: Companhia das letras, 2009. TOLEDO, Dionísio O. Teoria da Literatura: os formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1976.
REFERÊNCIA ONLINE
Página sobre Édipo Rei. Disponível em http://www.psicoloucos.com/Resenhas-e-Resumos/edipo-rei-sofocles.html (acesso em 02 de julho de 2013)
Página Sobre complexo de Édipo. Disponível em http://www.brasilescola.com/psicologia/complexo-edipo.htm (acesso em 2 de julho de 2013)
Roberta Basto

Um comentário:

  1. Gente, eu sei que ficou um pouco grande, mas esse é um livro de leitura praticamente obrigatória do curso de letras, e acho que pode ajudar bastante quem está entrando nesse mundo ou simplesmente quer compreender melhor esse livro que convenhamos é um pouco difícil.

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